Depoimentos
ÂNGELA LEITE
ILLUSTRADORA E ESCRITORA
A pintura a um tempo vigorosa e etérea, realista e alegórica de Wagner de Castro nos obriga a contemplar, sempre com estranheza, o direito e o avesso da alma humana.
YARA TUPYNAMBÁ
PROFESSORA E ARTISTA PLÁSTICA
Wagner de Castro, pintor surreal? Não, Wagner pintor espiritual. Muito além de um mundo de fantasia, em pintura precisa e impecável em técnica, o artista mergulha em profundidade na alma humana, para nos trazer mundos recônditos, onde bem e mal se misturam como na própria natureza humana.
Como a pintura de Bosch, a sua tem fundo moralizante, onde forças contraditórias se digladiam, onde monstros (pois a maldade deforma) se misturam com anjo – ou almas – elevando – se aos céus, na vitória final do bem. Assim, a arte é, para Wagner, pretexto para expor seu pensamento e sua crença na imortalidade da alma e cada quadro seu é uma chamada, a nós todos, para refletirmos sobre a provisoriedade de tudo e a presença do nada.
Pintor e pensador, o artista nos dá uma grande lição sobre a precariedade da vida.
MÁRCIO BORGES
COMPOSITOR E FUNDADOR DO MUSEU CLUBE DA ESQUINA
LEONARDO DE PASSOS
Vertical. Ascensional. Dual. Relativista. Quântico. Espírita. Realista. Eis aqui o verdadeiro Tërton de que nos falam os lamas, descobridor de primevas Termas plantadas tanto nos altiplanos tibetanos e nas areias desérticas de Jerusalém, quanto nas ruas de alguma pacata cidadezinha do interior de Minas, tesouros terrestres e tesouros da mente destinados aos poucos conquistadores daqui e de lá que venceram a guerra da matéria e se apossaram de ensinamentos ocultos
que surgem diretamente da mente, magens sagradas, arquétipos rituais, vapores e substâncias curativas, estátuas, montanhas, rochas, caminhos e céus que mostram a complexidade cósmica da encarnação.
Vertical, a pintura genial de Wagner de Castro sobe dos fundos negros, onde habitam rubras divindades iradas, lagartos e seres em estado de fusão, apenas toca, célere e leve, o marrom da terra, e segue em direção ao infinito do espaço ideal, feito de (trans)lucidez e iluminação.
Ascensional, seu traço força e reforça essa busca para o alto; seu olhar de exímio desenhista artesão, que se impõe minúcias de fundo, transporta intenção e racionalidade em cada passo vida acima, nessa vertiginosa rota ascendente rumo ao cume da perfeição destinada ao herói humano, aquele que vence as quimeras da ilusão, vence a própria morte e ressurge casto e inocente, para ser novamente jogado em meio às bestas-feras que povoam o Samsara e assim começar de novo a saga humana, de baixo para cima. Conforme se lê nos antigos e sagrados Ensinamentos de Shantideva sobre a Grande Compaixão:
‘… Ao fazer guerra contra os vícios,
a batalha trará muita dor.
Desconsiderando todo sofrer,
Conquistando inimigos como o ódio,
Esses são os verdadeiros heróis –
O resto apenas cadáveres no matadouro.’
Dual, a história que nos conta o narrador (sim, ele não só pinta cenas como um escritor maneja as palavras; torna-se ele próprio o personagem central do drama, um contador de histórias na primeira pessoa do singular, e posto a nu; na verdade, torna-se o narrador pessoal de uma história antiga e única, comum a toda a humanidade e que pode ser resumida assim: nascimento, vida, morte, renascimento) segue o preceito budista: um chão, dois caminhos. Luz e Trevas. Virtude e Vício. Nascimento e Morte. Amor e Pecado. Asas e Grilhões. Castidade e Luxúria. Vivos-mortos e Mortos-vivos. Tudo tem e não tem é nada.
Relativista e quântico, no sentido mais einsteiniano e físico, o artista decifra para o observador um mundo de possibilidades, camadas de realidade, tempos e espaços que se superpõem, sendo as mais diáfanas as que mais nos façam penetrar num nível mental sutil e rarefeito, como diante da visão de átomos que viajam como partículas e se dispersam como ondas, ou vice-versa, imprimindo na tela da vida ora franjas, ora ranhuras, ambas feitas de pura luz.
Espírita em sua busca do transcendente, convicto da vida inexorável que renasce e salta de dentro do túmulo, realista no manejo dos meios, ilustrador detalhista, com profunda e impressionante visão da anatomia humana e do todo universal, Wagner de Castro foi acolhido pelos meus olhos como uma espécie de gênio medieval, esotérico, misterioso e atemporal. Depois o pensamento reconsiderou: é o próprio Anjo da Revelação, que veio libertar o mundo com seu escudo de cores e sua espada de cerdas e tintas.